Chegou o dia da viagem e todos chegaram ao local de embarque bem cedo. A ordem sempre era para chegar hora e meia mais cedo em relação ao programado para a decolagem. Os componentes da Seção de Operações chegava duas horas e meia mais cedo, tendo em vista todos os preparativos. Também chegavam antes os encarregados de Rancho e do Almoxarifado.
Feita a chamada e realizada a apresentação formal ao oficial mais antigo presente, todos embarcaram, incluindo Azambuja que, conforme combinado, chegara no dia anterior.
A agitação presenciada na pista de taxiamento era coisa que estávamos acostumados a observar. Parecia uma grande feira, tal era o movimento. As viaturas e seus motoristas a postos estavam ali para levar à sede do Campo todo o efetivo chegado, além das bagagens pessoais e de todo o material descarregado. Caminhão de bombeiros estavam também a postos, conforme as normas de segurança rigidamente preconizadas. Na equipe também médico e enfermeiro em substituição aos profissionais que lá estavam para seguir de volta a Brasília. O eletricista era residente no Campo, de modo que não havia um a bordo. Igualmente outros, de seis a oito, moravam no Campo em casas cedidas pela Aeronáutica, e estes estavam sempre em Cachimbo, só se ausentando em caso de férias. Chegamos e fomos direto ao Rancho, para depois ocuparmos os respectivos alojamentos conforme o mapa previamente preparado pelo Encarregado de Hospedagem.
No dia seguinte àquela chegada em Cachimbo, à tarde, o cabo Nogueira, Luiz Soares da Silva Nogueira, entrou naquela sala, onde dávamos expediente. Estava esbaforido pela distância que havia caminhado sob aquele sol das duas horas entre a Seção de Transportes e a Ajudância, que era o local onde estávamos.
– Acalme-se, Nogueira – disse-lhe Azambuja, indicando-lhe uma cadeira. – Sente-se aí e me diga o que houve. – Alcino…
– Já sei – disse o soldado Alcino, saindo da sala.
Nogueira fez uma pausa para descansar, enquanto, tirando um lenço do bolso, enxugava a testa.
– Vim, Sargento, pedi ajuda pra representar contra o sargento Pedreira.
Firgurinha carimbada esse Nogueira. Cabo velho, já com os seus vinte e poucos anos de caserna, não seria promovido a sargento, de acordo com a proposta de legislação que estava em gestação, por causa de sua vasta folha corrida. Sua ficha exigia complemento de mais duas folhas, tantas eram as punições disciplinares que lhe foram impostas ao longo do período. Parou ali em Cachimbo porque, malgrado o comportamento disciplinar, era trabalhador, desses capaz de puxar um trator se precisasse; além de trabalhador, possuía boa lábia. Nos últimos meses estava com a vida sossegada, passando a juntar os trapos com a dona Ermelinda, viúva que conhecera na cidade, passando a viver com ela e sua filha, a Carlinha, em uma casa da Aeronáutica que lhe fora cedida. Azambuja fez alguns segundos de reflexão para pensar como agir naquela situação nova. Ora, representar contra alguém não tendo certeza absoluta da injustiça cometida e, além, não tendo testemunhas ou provas, era certo perder a questão. Em geral as possíveis testemunhas negavam fogo, deixando o prejudicado sozinho com o problema. Era preciso tato. O comandante, coronel Camboim, resolvera viajar logo no início desse dia, não sabendo ao certo se regressara para Brasília ou tinha ido para outro lugar. Ficaram em Cachimbo apenas dois oficiais, o tenente Ezequias e o capitão Nishio. Depois de ouvir Nogueira, Azambuja pediu que eu acompanhasse o cabo até a sala do comandante, onde o tenente Ezequias fazia algumas ligações telefônicas. (BLOGUE do Valentim em 21jul2014)