MEUS e minhas, ‘no tempo do ronca’ é uma expressão antiga, que as pessoas antigamente usavam para dizer que uma pessoa, coisa ou fato já tinha muitos anos de idade. Eu, em termos de idade, já sou um pouquinho rodado, dobrei o cabo da boa esperança, sou do tempo do ronca. As pessoas dizem que sou mais velho que certo árbitro de futebol que só de minuto de silêncio tinha sessenta anos. Dizem até que fui ajudante de Santos-Dumont. Pareço muito o Philadelpho, que era velho até no nome, com dois ‘PH’, um no ‘fi’, outro no ‘fo’.
Certa vez me ofereceram uma tartaruga para bicho de estimação. Não aceitei: “Não dura tanto tempo. Quando a gente se apega ao bicho, ele morre”, justifiquei a recusa.
Os dois textos adiante são do tempo do ronca:
Antigamente se falava assim:
“Meus camaradinhas,
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas, sendo que algumas eram até formosas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa, o que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas (ou cáqui); não admira que dessem com os burros n’água.” (C. D. Andrade in Seleta em prosa e verso, pág. 3).
Pode crer, amizade! Agora, com licença, que a patroa me chama para dançar uma valsa.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!