“DEVEIS estar sempre embriagados. Aqui reside tudo. É a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é imperativo embriagar-se sem descanso.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos.
E se por acaso, sobre os degraus de um palácio, sobre a relva verde de uma vala, na morna solidão do vosso quarto, acordardes de embriaguez diminuída ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:
“É hora de vos embriagardes! Para que não sejais escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto.”
Charles Baudelaire
***
O ANO de 2019, malgrado a calamitosa situação política pela qual passa o nosso país, tem sido bom para mim. Esse período, que, pelo calendário, ainda não findou, é um tempo em que algumas portas me foram abertas, amizades são construídas e outras, já existentes, vem sendo estreitadas.

Dentre as amizades feitas, podemos citar aqui a família de Emmanuel Beauchard, com sua esposa Paula Pierre e o menino Ricardo. Emmanuel e Paula, sobreviventes, são do Haiti, e o Ricardo, brasileiro. Em razão da difícil realidade de seu país, decidem emigrar para a América do Sul, chegando em primeiro no Chile, ainda no governo da democrata Michelle Brachelet. Assumindo um governo de outra orientação ideológica, e com o povo chileno tendo que comer o pão que o Diabo amassou com o rabo, sobra naturalmente para os imigrantes, mormente imigrantes pretos e pobres, como é o caso dessa família de guerreiros e de seus compatriotas. Por essa razão, decidem sair do Chile em direção ao Brasil, que é um país acolhedor de todos os povos. Chegaram a Santa Catarina e, de lá, finalmente encontram abrigo definitivo em nossa cidade, aqui no Paraná. Tiveram, portanto, que contar com o coração acolhedor e solidário de nosso povo, e muito facilitou a intervenção dos amigos Claudiovane Corrêa e sua esposa, Dani Corrêa, que, em primeira mão, acolheram a família de imigrantes.
O Ensino foi outra porta que se abriu. Atendendo a uma vocação de décadas, estou às portas das salas de aula. Neste ano, pude ministrar alguns estágios, do sexto ao nono ano. Agradeço ao bom Deus pelas portas e braços que se me abrem neste ano.

Neste 20 de novembro, dia consagrado por lei à Consciência Negra, fui honrado com o convite para falar sobre o assunto. Graças a intervenção do amigo Juca, professor de História, estive no Colégio José de Anchieta para dar nosso humilde recado sobre as injustiças sociais porque sofrem nosso povo, notadamente negros, pardos e indígenas. Imensamente feliz quedei-me ao notar aqueles olhinhos sedentos de conhecimento que são os dos alunos do nono ano do ensino fundamental e dos primeiro ao terceiro ano do ensino médio que nos escutavam atentos.

Mas isso não foi tudo. No dia seguinte, em postagem de minha esposa, Bernardete Kleinibig Moreira, em honra a minha data natalícia, houve mais de meia centena de mensagens carinhosas. Uma delas me calou fundo o coração:
” Ontem o Antonio esteve na escola de meu filho, ele chegou em casa empolgado com a história de vida que ouviu.
Feliz aniversário!
Obrigada por despertar sonhos. “

Que vitória, meu Deus!
Outro dia, quando em estágio para o oitavo ano, no Colégio Estadual de Dois Vizinhos, no intervalo uma aluno me parou:
“Professor, o senhor vai dar aula para a nossa turma?”
Respondo que sim, e ela manifesta sua alegria:
“Obaaa!!!”
São razões mais que suficientes para, aos 59 anos de idade, lançar-me de corpo e alma à docência. São as coisas boas que a vida, incluindo as mídias sociais, nos proporcionam. Ainda, falando sobre rede social, não posso esquecer de mencionar a visita em dezenove de junho passado do amigo José Augusto Moita Soares, acompanhado de sua esposa Ivone e do filho Dimitri. Já tive oportunidade de me manifestar neste blogue sobre a surpresa que essa amizade, que antes era apenas virtual, causou em minha alma e na de Bernardete. Agora, vamos nos programar para retribuir a visita e viajar para a bela Fortaleza nesse 2020 que se aproxima, querendo o bom Deus.

Deixamos para festejar e receber os amigos com um jantar e algumas cervejas e vinho (esse não pode faltar a este adepto de Baudelaire) somente dois dias depois. 23 de novembro é a data da Flaviane, minha enteada e filha. Assim, a gente economiza e faz uma festa só.
Como passatempo, além deste blogue, do Facebook e do Twitter, agregamos o canal do YouTube “BLOGUE do Valentim!“, onde neste ano postamos alguns vídeos caseiros. Tudo conciliado com a casa, a família, o curso de Letras e suas múltiplas exigências. No YouTube, postamos recentemente o trabalho sobre “Dom Casmurro”, clássico de Machado de Assis, uma paixão desde a adolescência. Fizemos isso com a ajuda da voz melodiosa de Léo Garcia, que muito contribuiu para a beleza dessa singela resenha. Agora, sobre a Consciência Negra, fechamos a nossa apresentação com o vídeo por nós produzido a respeito da data. Por sinal, muito agradou a nossos diletos alunos e assistentes na ocasião. Ei-lo aqui:
Fechando com chave de ouro (para usar um clichê surrado) a semana de festejos, encerramos ontem (sábado, 23) com uma grande festa com direito a música ao vivo com a participação do competente Luiz Pompeo (outra grande amizade construída em 2019) e sua esposa Mariza, muitos amigos, uma culinária deliciosa das mãos habilidosas da minha esposa Bernardete, muita bebida e bastante alegria, com a embriaguez do costume à moda de Charles Baudelaire, o poeta simbolista francês.

Aqui faço o registro da recepção com algumas fotografias:



Por isso tudo, consideramos 2019 um ano de vitórias pessoais, pelo que só agradecemos a Papai do Céu.
E que venha o meia zero!
L.s.N.S.J.C.!